quarta-feira, 29 de junho de 2011

A serenidade





Herman Hesse.



"A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento

supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos

grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos

cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte.

É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores

da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz;

aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem

passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos

encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico:

isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das

estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu

medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos

inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos,

cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa

serenidade.



Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

(colaboração: Ivanildo Assis)