domingo, 20 de novembro de 2011

Saudades

"Não sei se saudades tem cor. Dizem que sim.
O que eu sei é que ela tem forma, tem gosto, tem cheiro e peso também.
E, acredite, ela tem asas! Se não, como nos transportaria, tantas vezes, a lugares tão distantes?
E, sei ainda, que ela se agiganta, quando mais tentamos, diminuí-la.
Sei que ela dói, intensa e sem remédio.
Se não fosse ela, não sei se teríamos consciência do tamanho da importância das pessoas dentro da gente..." (autor desconhecido)

domingo, 13 de novembro de 2011

Yeha-Noha

Yeha-Noha é uma canção tradicional dos índios da tribo Navajo. Interpretada pelo grupo indígena norte-americano, Sacred Spirit, ela é cantada durante o inverno enquanto os animais estão dormindo. A voz que se escuta é de um respeitado "velho" Navajo de Chinle (Arizona - EUA), Kee Chee Jake.

O significado de "Yeha-Noha" é "desejo de felicidade e prosperidade".




A Carta do Cacique Seattle, em 1855
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.

Vivendo o desconhecido...


O desconhecido está sempre, continuamente, entrando no seu mundo conhecido e perturbando-o. Mas perturba-o apenas porque você não lhe dá as boas-vindas. Se você puder acolher o desconhecido e se puder abandonar o conhecido...

É sempre o conhecido que é perturbado pelo tempo - não é o desconhecido. O desconhecido não pode ser perturbado pelo tempo ou por qualquer coisa.

Se você está pronto para dar as boas-vindas ao desconhecido, você conhece o segredo de permanecer vitorioso em todas as derrotas e em todos os fracassos.
Por Ronaldo Bezerra

Por um mundo melhor...

sábado, 12 de novembro de 2011

Viver integralmente




A vida só é possível quando você tem
tanto o bom tempo quanto o mau tempo,
quando tem prazer e dor;
quando tem inverno e verão, dia e noite;
quando tem tristeza tanto quanto felicidade,
desconforto tanto quanto conforto.

A vida passa entre essas duas polaridades.

Movendo-se entre essas duas polaridades, você aprende a se equilibrar.

Entre essas duas asas, você aprende a voar até a estrela mais brilhante.
(autor desconhecido)

Paixão


"Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como os outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar das fontes iguais às deles;
e era outro o canto, que acordava
o coração de alegria.
Tudo o que amei, amei sozinho".

(Edgar Allan Poe)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Píramo e Tisbe


" O amor, quando maior que o peito que o abriga, dilacera a carne que o sustenta!" Píramo e Tisbe

As famílias de Píramos e Tisbe jamais haviam trocado uma única palavra, embora morassem lado a lado, na bela e longínqua Nínive, uma cidade da Assíria. Há muitos anos, elas haviam-se enfrentado numa luta violenta, disputando terras e propriedades. A luta acabou, mas a rivalidade não. Por isso, nunca mais se falaram.

As deusas do Destino, depois de tanto tempo, pareciam novamente estar traçando um difícil conflito no caminho dessas famílias. Para desespero dos pais, todos descobriram que Píramos e Tisbe estavam apaixonados em pelo outro e tinham planos de se casar.

— Nunca! É impossível aceitar uma coisa dessas! Meu filho unindo-se àquela família de ladrões de terras? Nunca!!!

Isso acontecia sempre que Píramos contava seus sonhos para o futuro ao lado de Tisbe. E, certamente, a família da moça era da mesma opinião, e o pai proibiu-a terminantemente que ela voltasse a olhar para o rapaz.

— Um olhar! Basta um simples olhar para a casa ao lado e tu verás do que sou capaz...

A situação ficou insuportável para Píramos e Tisbe. Sentados sob a imensa amoreira branca, o ponto de encontro dos dois, eles tentavam encontrar uma saída para o problema. Tisbe lamentava:

— Não adianta. Nossos pais nunca aceitarão nosso casamento.

Píramos, no entanto, não estava disposto a abrir mão de seu amor e prometia encontrar uma maneira de se unirem:

— Ficaremos juntos, eles aceitando ou não!

Aconteceu, porém, que, numa tarde, enquanto os dois jovens conversavam sob a amoreira branca, apareceram no local os empregados de suas famílias. Como se fosse combinado, os pais tinham ordenado aos criados que seguissem e vigiassem todos os passos dos filhos. Píramos, surpreendido pelos empregados de seu pai, suplicou com voz baixa:

— Por favor, não dizei nada a meu pai! Suplico-vos!
Os empregados nada responderam. Apenas viraram as costas e voltaram para casa. Píramos e Tisbe também voltaram, temerosos com o que poderia acontecer. Estranharam, porém, que os pais não fizeram nenhum comentário, nem lhes castigaram. E pensaram os jovens:

— Talvez os criados tiveram pena ou quiseram evitar brigas.

Porém, durante alguns dias, foram ambos impedidos de saírem de casa, e não puderam se encontrar. Só na semana seguinte é que eles foram descobrir o motivo: a pequena cerca que separava as duas casas estava sendo substituída por uma enorme muralha, tão alta quanto aquelas que serviam para separar cidades inimigas. Depois de pronta, os pais dos jovens pareciam muito satisfeitos. Pela primeira vez, haviam-se unido para realizar um objetivo em comum: o de separar os inocentes apaixonados para sempre.

— Ah, muro maldito! Quem foi o infeliz que teve a idéia de construí-lo? Isto é um absurdo! Que um raio o parta em dois, que os deuses o façam evaporar, que meu amor o derreta como o Sol!

E começou a entrar em desespero, dando murros contra os tijolos, tentando derrubá-lo à força. E caiu fatigado a chorar, chorar como uma criança... Mas uma voz se fez ouvir do outro lado:

— Não sejamos tão injustos, meu amor!

— Tisbe?!

— Vem mais para baixo, perto da árvore...!

E Píramos seguiu as instruções de sua amada, e descobriu uma pequena fenda que atravessava o muro intransponível.

— Vê, amor, não fosse esta estreita fenda que o construtor desavisado deixou aberta, jamais poderíamos conversar assim, livremente. Não, não culpe o muro, nem seu construtor, mas apenas nossos pais, que de maneira insensível nos consomem a alma nesta cruel agonia. Olha. Tenho um bilhete para te entregar, porque não posso ficar aqui por mais tempo. Vou tentar empurrá-lo com uma varinha, espera...

Com muito custo, Tisbe conseguiu empurrá-lo até o outro lado, sujando-o e rasgando-o parcialmente.

— Agora preciso ir. Nos encontramos de novo depois, no cair da tarde.
Píramos tentou chamá-la, mas ela já havia ido. Então, desenrolando o bilhete, deixou cair todas as lágrimas a que tinha direito, pois lhe revelava tudo o que sentia e não podia demonstrá-lo fisicamente. Era como se vivessem muito distantes entre um e outro. Só poderiam se conformar com o que tinham e com os sonhos.

E assim, todos os dias, ao amanhecer, ao cair da tarde e no meio da noite, continuaram os encontros. Então, noutro dia, Tisbe voltou.

— Píramos, tu estás aí? Responde...!

Tisbe parou um pouco; o ruído de um longo suspiro chegou até os ouvidos de Píramos apaixonado.

— Píramos, precisamos ter muita paciência...

— Paciência?! Minha paciência esgotou-se, minha amada Tisbe. Que mal fizemos nós? Que crime cometemos? Como posso me conformar diante de tanto despotismo? Já não suporto mais viver das doces palavras que me dizes, sem poder ver a maravilhosa boca que as pronuncia, nem mesmo ler os bilhetes que introduzes pela fenda, sem poder ver a alva mão que os escreve.

Píramos, então, tentou, mais uma vez, verse conseguia enxergar um pedacinho, por mínimo que fosse, de sua adorada Tisbe. Mas o paredão era muito espesso, e a fenda, muito estreita. E, afagando as heras que cobriam o muro como se fossem os cabelos de sua amada, exclamou:

— Oh, pudesse agora tomar-te em meus braços...!

Com a boca grudada no pequeno vão do elevado muro, ela então sussurrou:

— Píramos amado, não te exaltes, podem nos ouvir. Aí, será o fim de tudo!

E o jovem assírio pensava, enterrando os dedos nas saliências e reentrâncias do anteparo:

— Se pudesse ao menos escalá-lo...

Mas as pedras eram muito escorregadias. O jovem não podia mais do que a poiar a ponta dos dedos entre as saliências. E desistiu de tentar.

— É um maldito deboche! Será que esse desgraçado construtor planejou cada detalhe para dificultar tudo?

O jovem ergueu, então, os olhos para o alto, mas por mais que elevasse as vista e procurasse ter uma idéia da altura do muro, perdia as esperanças.
— Acho que até as lagartixas não conseguem subir...

E Píramos, com seus lábios ardentes colados à pedra molhada, como se beijasse os lábios úmidos de sua amada, exclamou:

— Oh, paixão... oh, tormento...

Certamente, se as paredes fossem de gelo, teriam derretido devido ao calor de seus lábios e a ansiedade de seus corpos.

— Quando poderei beijar-te de verdade, tocar teus lábios, tua pele, envolver teu corpo encantador no meu abraço? Teremos de esperar, então, até que estejamos velhos, ao ponto de meus olhos não poderem mais distinguir a tua beleza?

— Velhos? Nós? Tu és tão belo, não há jovem de maior beleza em toda a Babilônia! Tu nunca envelhecerás.

— Por enquanto, minha bela e fascinante Tisbe... O Tempo, porém, é veloz e desapiedado para com os mortais.

— Realmente, tu estás ficando diferente. Está mais maduro e tua voz mais grave, embora mais desanimado, também... Ah, tens razão, Píramos... Basta! Isto não pode continuar assim.

— Isto mesmo! Ah, minha doce Tisbe, enfim me ouves... Tenho pensado muito nisto, a cada dia, e acho que já tenho um plano para nós.

— Um plano? O que é?

— É muito simples. Se não podemos nos encontrar assim, amanhã à noite, quando todos estiverem dormindo, fugiremos.

— Por onde? Pela porta da frente?

— É o único jeito.

— Oh, Píramos, mas será perigoso... Poderão nos ver...

— Não, basta que tenhamos um pouco de cautela e outro tanto de audácia. Vamos nos encontrar junto ao túmulo de Ninos, fora dos limites da cidade.

— Eu jamais saí da cidade, Píramos, não conheço nada lá fora. Que farei?

— Tu logo o reconhecerá, pois ele é protegido por uma imensa amoreira, com frutos brancos como a neve, bem ao lado da fonte. Aquele que chegar primeiro aguardará o outro, sob os galhos da árvore.

— Tu já tinhas tudo preparado...!

— Sim, mas não foi fácil. Preocupo-me pela tua segurança. A deusa do amor me inspirou a ter coragem para lutar por quem eu amo e quero ficar.
Os dois aguardaram, então, que o Sol terminasse de percorrer o firmamento e despencasse no horizonte, quando a Noite surgiu e encobriu o céu estrelado com o seu negro manto.

O local do encontro foi marcado para a noite seguinte, sob a velha amoreira de frutos brancos, junto ao sepulcro de Ninos, rei e fundador de Nínive e marido da rainha Semíramis. Assim que anoiteceu, Tisbe levantou-se da cama, cautelosamente, e, após certificar-se de que todos na casa dormiam, deslizou furtivamente pela janela até alcançar o portão de saída. Antes de cruzá-lo, deu uma última olhada no muro maldito, cujo topo nem as aves altaneiras tinham gosto de pousar.

— Maldito muro, maldito construtor...

Colocando a capa sobre os ombros e a cabeça, deu-lhe as costas para sempre.

Depois de ter atravessado as ruas da cidade, sob o sopro úmido e frio, alcançou um beco estreito e saiu por uma porta lateral de Nínive, de dificultoso acesso, enquanto ouvia, ao longe, o latido dos cães que acordavam; cruzou o campo e, finalmente, sob o luar, avistou uma gruta. Depois, com um pouco mais de dificuldade, subiu pela encosta até alcançar, enfim, o famoso túmulo, segundo as instruções de Píramos. Sentou-se, pronta para esperar o amado, que não deveria tardar.

Tisbe assim permaneceu, encostada sob a amoreira, durante um bom tempo, protegida do frio com a sua capa.

De repente, viu , a alguns metros dali, uma leoa caminhando em sua direção. Na boca do animal, ainda restava o sangue de uma vítima recente. Desesperada, Tisbe correu para a gruta, perto dali, e, na pressa, deixou cair seu manto. A leoa, que já havia comido, não a perseguiu, mas aproximou-se da fonte, bebeu água e parou debaixo da amoreira para descansar; brincou e rasgou o manto com a boca e as garras, reduzindo-o a um monte de tiras ensangüentadas e logo foi embora.
Naquele momento, Píramos chegou, um tanto atrasado, pois as coisas não haviam sido tão fáceis quanto para Tisbe; os cães haviam começado a latir assim que ele pusera os pés no jardim. Trepado nos galhos de uma árvore, tivera de aguardar que o seu cão e o vigia se afastassem outra vez para poder prosseguir a fuga.

Assim que chegou ao túmulo, viu, sob o clarão ofuscante da lua, as fundas pegadas da leoa impressas perto da fonte.

— Leão...! Há leões por aqui!

E começou a procurar ao redor qualquer movimento... Quando, andando um pouco mais, para o lugar combinado, pousou os olhos atônitos sobre os farrapos ensangüentados da capa de Tisbe. Pelo chão, pôde notar mais rastros de uma fera: estavam nítidos. E Píramos, compreendendo o que se passava, apanhou a capa e murmurou banhado em lágrimas:

— Ela está morta! Não poderia tê-la deixado vir sozinha! É minha culpa...! Tisbe está morta e foi minha culpa...!

E, de joelhos, voltando o rosto em direção da Lua, bradou:

— Ó deuses, o que significam estas tiras ensopadas de sangue? Não pudestes protegê-la? Como a deixastes à mercê de feras cruéis e selvagens? E tu, deusa do amor, que fizeste?

Píramos ergueu-se, então, e relanceando o olhar por tudo gritou, aos prantos:

— Vamos, vêm, leões malditos! Vêm completar a negra tarefa! Abandonai os rochedos e vêm terminar o que começastes! Vêm!

Píramos urrava, batendo no peito em desespero. Então, parou por alguns instantes, depois decidiu o que fazer. Puxou violentamente a espada e cravou-a no próprio peito. E caiu soltando um grito engasgado de dor. O sangue esguichou e manchou algumas amoras brancas que estavam pelo chão. E, com os olhos ainda abertos, o jovem observou uma serpente, enrolada no tronco da árvore que olhava-o com muita tristeza.
Enquanto isso, Tisbe, abraçada aos joelhos trêmulos, aguçava os ouvidos, com a sensação de ter ouvido Píramos chamá-la. Imaginou-o sozinho, esperando-a sob a amoreira, com a leoa a lhe rondar os passos. Encheu-se enfim de coragem e resolveu arriscar-se a voltar. Seus passos tornaram-se mais lentos e parados quando viu uma trágica cena. Tisbe ficou imóvel diante do corpo de Píramos.

— Píramos, amado, sou eu, a tua Tisbe!

E foi ajoelhar-se ao lado de seu corpo, e, tomando-o nos braços, beijou sem parar aqueles lábios lívidos e frios.

— Vamos, beija-me também, querido, me ouve!

Ao ouvir a voz de Tisbe, Píramos abriu pela última vez os seus exaustos olhos; um sorriso efêmero iluminou seus lábios, e logo em seguida sua alma renunciou à vida. Ela, então, divisou ao seu lado a capa toda rasgada e manchada, e exclamou, alterada:

— Tiraste a vida por mim! Oh, funesto engano! Oh, Moiras fatais! Perdemos um ao outro antes mesmo de nos amarmos! Oh, Morte acolhedora! Permita que eu não me separe de quem eu amo!

Então, viu apenas uma infinita escuridão, e caiu desmaiada sobre o corpo de seu grande amor. A serpente, muito comovida, deslizou o corpo pelo tronco da amoreira branca, indo ao encontro dos jovens e infelizes apaixonados.

Na manhã seguinte, assim que a Aurora divina retornou, tingindo o céu com seus rosados véus, quando os pais de Píramos e Tisbe saíram a procura de seus filhos, estranharam que, na entrada da floresta, a antiga amoreira branca estava carregada de frutos vermelhos. Ao se aproximarem, desesperaram-se com Píramos mortalmente ferido e Tisbe com marcas de picada de cobra na perna.
As mães abraçaram-se, soluçando agoniadamente o seu desconsolo. E jogaram-se, em desespero, sobre os corpos de seus filhos, que estavam unidos agora para sempre.

Naquele momento de grande sofrimento, surgiu no Céu o poderoso Zeus, rei dos deuses, com a grande águia pousada em seu ombro.

— Píramos e Tisbe estarão sempre unidos na morada dos deuses. E, em homenagem ao grande amor que viveram, os frutos das amoreiras de todo o mundo jamais deixarão de ser vermelhas.

E o deus do longínquo Olimpo desapareceu, deixando um decreto, e os corpos de Píramos e Tisbe, a partir de então, foram unidos pela Morte e repousaram no mesmo túmulo, sob a sombra das amoras escarlates, porque os pais não tiveram coragem de desuni-los.

Para localizar mais ou menos a época desse mito, finalmente, em 1.510 a.C., após longos anos, subia ao trono de Árgos, o jovem Abas, filho de Linceus e Hipermnestra. Nesta época, o grande soberano Hamurábi transformava Babilônia na capital dos amorreus, tornando-a sede de poderoso império na Ásia e fundando o Primeiro Império Babilônico. Com sua esposa Aglaia, Abas teve dois filhos, gêmeos, e deu-lhes o nome de Acrísios e Proetos (Proitos), destinados a serem inimigos eternos e reinar em Árgos e Tirinto.


sábado, 5 de novembro de 2011

O teu riso


O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

contribuição: Omar Farago

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O Mestre


Quem seria nosso Mestre?

Seria aquele que se distanciando da vida comum, permanece num estado considerado tão alto que para nós, pobres mortais, será impossível de alcançar?

Penso que não.

O verdadeiro Mestre é aquele que, vivendo em meio à vida comum, como todos os seres humanos, consegue enxergar além da realidade vivida e perceber que existe algo mais na vida do que apenas dores e sofrimentos.

E, conseguindo se distanciar, sem sair da vida, atinge outras realidades existentes em nosso meio, mas que não percebemos, e se utilizando dos meios que aqui possuímos nos remete a estas outras realidades de uma maneira tão natural e tão simples, que muitas vezes não é reconhecido como este verdadeiro Mestre.

Porque os verdadeiros Mestres devem viver de acordo com regras inventadas por pessoas que acham que podem decidir assuntos que não lhes pertencem, que pra tudo existe um protocolo a seguir, e sem o qual o Mestre não pode existir, bobagem!

Como poderia alguém ser Mestre, se não experimentasse da mesma realidade existencial que qualquer pessoa comum vive, se não fosse assim, tudo seria perfeito demais para poder ser acreditado, viraria ficção científica.

Por isso, paremos e observemos ao nosso redor quem são nossos Mestres de verdade, não é um exercício fácil de realizar, mas necessário para não vivermos num eterno conto de fadas, e poder enxergar além da simples aparência das coisas e das pessoas.

E assim encontraremos aquilo mesmo que estava escondido dentro de nós e não sabíamos.

Por Daniel Silva - www.impressoesdaniel.blogspot.com

Para acalmar a alma...

Sea of Emotion (work it twixtor) from VOROBYOFF PRODUCTION on Vimeo.